sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O que é o Pantanal

O Pantanal é um dos mais valiosos patrimônios ambientais do mundo, com exuberante e rara beleza. Seus recursos, bens e serviços ambientais custam, pelo menos, 112 bilhões de dólares por ano, segundo recente estudo feito pelo pesquisador da Embrapa Pantanal, Andre Steffens Moraes. Localizado entre Brasil, Bolívia e Paraguai, é regido pelo ciclo das águas, através dos movimentos de cheia e seca anuais dos rios, chamados "pulsos de inundação". 
É o reino das águas doces, das chuvas, das nascentes do planalto e das regiões subterrâneas (aquíferos). Numa delicada e perfeita ópera, as águas regem a vida das pessoas, da fauna e da flora. Quando os rios recebem ao mesmo tempo tanta água, aumentam de volume e, por até oito meses do ano, os animais são forçados a migrar para partes mais altas, as cordilheiras ou capões. As águas dos rios, que insistem em transbordar, preocupam ribeirinhos, proprietários de terras, estudantes, professores, bichos e plantas. Todos precisam acompanhar o ritmo das águas. 
Considerada a maior planície alagável do mundo, o Pantanal não é propriamente um bioma ou ecossistema único, mas uma região de encontro, um elo de ligação entre Cerrado, Chaco, Amazônia, Mata Atlântica e Bosque Seco Chiquitano. Essa característica favorece a diversidade de espécies (biodiversidade), e a interação entre fauna e flora. 
Os relictos de Caatinga, vegetação semelhante à Caatinga - presentes nas partes mais altas do Pantanal, como cordilheiras e morros, são testemunhas vivas da vegetação pré-histórica da região, que sobreviveu à última Era do Gelo (período Pleistoceno). 
Há 60 milhões de anos atrás, o Pantanal era uma região elevada, resultado da formação da Cordilheira dos Andes, que sofreu rupturas, dando origem à depressão pantaneira. Durante muito tempo essa depressão recebeu centenas de metros de sedimentos, formando a atual paisagem. 
Registros e fósseis de animais pré-históricos do período Pleistoceno (entre 10 mil e 1,6 milhão de anos atrás) foram encontrados na bacia hidrográfica que forma o Pantanal, entre eles o bicho-preguiça gigante (Megatherium eEremotherium), que tinha até 3 metros de altura, e o tigre dente-de-sabre, cujos caninos mediam até 30 centímetros de comprimento. No rio Paraguai também foram encontrados ossos de um cavalo primitivo extinto (Equus pantanensis), o verdadeiro cavalo pantaneiro.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Localização

Imagine uma imensa planície de mais de 210 mil km2 (70% no Brasil, 20% na Bolívia e 10% no Paraguai) com declividade que varia de um a dois centímetros por quilômetro (norte-sul) e de seis a 12 centímetros (leste-oeste). É dessa forma que durante o período da cheia o Pantanal retém muita água. No Brasil, o  Pantanal equivale uma vez e meia ao tamanho de Portugal. 
Os rios sinuosos, cheios de curvas, e algumas formações rochosas, como a Serra do Amolar (na fronteira com a Bolívia) e o Fecho dos Morros, em Porto Murtinho (fronteira com o Paraguai), diminuem ainda mais a velocidade das águas, forçando os rios a transbordar e inundar imensas áreas da planície. 
Ao mesmo tempo em que a água transborda, especialmente do rio Paraguai - principal leito que dá nome à bacia hidrográfica* que forma o Pantanal -, leva nutrientes para as pastagens e matas nativas. 
Na cheia, os peixes se reproduzem em lagoas ou corixos, canais temporários com águas mais calmas. Assim, atraem inúmeras espécies de aves, mamíferos, répteis, anfíbios e borboletas, contribuindo para o contínuo movimento da cadeia alimentar. Apesar de as chuvas (principalmente no planalto) ocorrerem na região entre dezembro e fevereiro, é de maio a julho que as águas atingem nível máximo na planície. 
Quando os rios começam a baixar, na vazante (seca), as águas que inundavam a planície retornam aos leitos principais dos rios, deixando muitos organismos aquáticos nas lagoas pantaneiras, que geralmente são rasas. Ali, formam-se ninhais de aves migratórias que vivem em colônias. 
Considerada uma região de delicado funcionamento ecológico, o Pantanal é influenciado diretamente por ações que ocorrem no planalto da Região Hidrográfica do Paraguai, ou Bacia do Alto Paraguai (BAP). Com superfície de 624.320 km2 entre Brasil, Bolívia e Paraguai (dados do WWF), a BAP é considerada região estratégica para o desenvolvimento de políticas de sustentabilidade. 
A estreita relação entre a planície (Pantanal) e o planalto da BAP garante o funcionamento dos ecossistemas e favorece o desenvolvimento de atividades turísticas e exploração econômica. Porém, políticas e processos de grande impacto de uso e ocupação dos solos têm sido tão intensos que descaracterizaram partes significativas da vegetação de planalto e avançam para a planície. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Diferentes Pantanais

Os 11 Pantanais 
Por apresentar diversas paisagens, o Pantanal é classificado em vários Pantanais ou sub-regiões, que apresentam distintos regimes hídricos, distribuição de fauna e flora e características geológicas e químicas. O Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai (PCBAP), primeiro grande programa que realizou estudos, pesquisas, levantamentos e diagnósticos sobre a região, identificou 11 áreas:
Pantanal de Barão de Melgaço - localização no mapa: unidade 21 
Características: Solos arenosos ou areno-argilosos com concreções de ferro em áreas inundáveis de relevo plano. Terras inundáveis por 3 a 4 meses. Vegetação de Savana. Fauna residente em presença de ninhais. Área de recarga de aquíferos. Reservas Indígenas Teresa Cristina e Perigara. Turismo e pecuária extensiva. Potencial para preservação e turismo.
Pantanal do Paraguai - localização no mapa: Unidade 22-A 
Características: Solos arenosos ou areno-argilosos com concreções de ferro em áreas inundáveis de relevo plano. Área de inundação por mais de 6 meses. Vegetação de Savana e Formações Pioneiras. Alta concentração de fauna. Área de reprodução em sistema de piracema para as espécies de: pintado, pacú, cachara, barbado, dourado e curimbatá. Contém o Parque Nacional do Pantanal e a Estação Ecológica Taiamã. Pecuária com pasto nativo. 
Pantanal do Taquari - localização no mapa: Unidade 22-B 
Características: Solos arenosos, de ambientes úmidos com forte presença de material orgânico em relevo de planície. Área de inundação por 6 meses. Instabilidade dos leitos fluviais. Vegetação de Floresta Estacional e formações pioneiras. Pecuária com pastagem nativa com pouca ocorrência de plantada, bananicultura e pesca. 
Pantanal de Poconé - localização no mapa: Unidade 23 
Características: Solos arenosos ou areno-argilosos com concreções de ferro em áreas inundáveis de relevo plano. Área de inundação de 3 a 4 meses. Vegetação de Savana. Área de reprodução de avifauna e de recepção e deposição de sedimentos. Pecuária extensiva em pasto nativo, pesca profissional e turismo. Potencial para preservação e turismo. 
Pantanal de Cáceres - localização no mapa: Unidade 24 
Características: Solos arenosos ou areno-argilosos com concreções de ferro em áreas inundáveis de relevo plano. Área de inundação de 3 a 5 meses. Concentração de fauna. Vegetação de Savana e Floresta Estacional. Potencial para preservação, turismo e pecuária. 
Pantanal do Paiaguás/Nhecolândia - localização no mapa: Unidade 29 
Características: Solos arenosos profundos e hidromórficos em relevo de planície. Inundação de 3 a 4 meses ao ano. Concentração de fauna. Vegetação de Savana. Área de recarga de aquífero. Pecuária extensiva com pastagem nativa. Potencial para pecuária em pasto nativo e para turismo. 
Pantanal de Aquidauana - localização no mapa: Unidade 34 
Características: Solos arenosos ou areno-argilosos com concreções de ferro em áreas inundáveis com relevo de planície. Áreas de inundação de 3 a 4 meses. Concentração de fauna. Vegetação de Savana. Pecuária extensiva como atividade econômica. Potencial para preservação. 
Pantanal do Abrobral / Negro - localização no mapa: Unidade 36 
Características: Solos argilosos e siltosos em relevo e planície. Área Área de deposição de sedimentos finos de instabilidade dos leitos fluviais com inundação por mais de 6 meses. Alta concentração de fauna e presença de capões de matas com sítios arqueológicos. Vegetação de Savana e Formações Pioneiras. Pecuária com pastagem nativa e turismo. Potencial para turismo e pesca. 
Pantanal do Miranda - localização no mapa: Unidade 38 
Características: Solos argilosos de baixa permeabilidade em relvo de planície, com inundações de 4 a 6 meses ao ano. Vegetação de Savana Gramíneo-Lenhosa e Paratudal (tabebuia). Atividades como rizicultura irrigada e pecuária extensiva com pasto nativo e turismo recreacional e pesqueiro. 
Pantanal do Nabileque - localização no mapa: Unidade 39 
Características: Solos argilosos com alto teor de sódio em relevo de planície, com período de inundação acima de 6 meses. Vegetação de Savana Estépica Gramíneo-Lenhosa e ocorrência de Carandazais, com concentração de fauna. Atividade de pesca profissional e esportiva e pecuária extensiva em pastagens nativas. 
Pantanal de Porto Murtinho - localização no mapa: Unidade 44 
Características: Solos hidromórficos e argilosos, com concentração de sódio, em relevo de planície. Área de inundação de 4 a 6 meses. Vegetação de Savana Estépica com ocorrência de aves chaquenhas. Atividade de pesca e potencial para preservação.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Ameaças

Atualmente, devido à substituição natural de campos alagáveis por plantas invasoras arbustivas e arbóreas, está ocorrendo uma pressão sobre as cordilheiras, de modo a aumentar a pastagem de gado durante as cheias. Esta estratégia de manejo reduz oshábitats de populações de animais silvestres, que dependem das cordilheiras como refúgios durante as enchentes. Os animais tornam-se mais vulneráveis a caçadores.
Com o aumento das pressões econômicas como, por exemplo, de produção de álcool e outros biocombustíveis, incentivando monoculturas de cana e soja, além da expansão da pecuária e o incremento da demanda por ferro e aço para a China (que resulta em crescimento dos desmatamentos de florestas do Cerrado e Pantanal para produção de carvão vegetal para siderúrgicas), a conservação do Pantanal está em jogo.


O desmatamento de extensas áreas de vegetação nativa já devastou 40% da área total da Bacia do Alto Paraguai no Brasil, além de acabar com cerca de 17% da cobertura vegetal original do Pantanal, principalmente para a criação de novas áreas de pastagens e agricultura. Uma projeção feita pela entidade Conservação Internacional do Brasil alerta que, se for mantido o atual ritmo dos desmatamentos, o Pantanal estará devastado até o ano de 2050.


A degradação é preocupante não apenas na planície da bacia hidrográfica, mas principalmente no seu entorno, em áreas mais elevadas (planalto), onde alterações nas florestas nativas (como Cerrado e Chaco) já afetam os rios que formam o Pantanal, causando a aceleração de processo de assoreamento em praticamente todos os principais rios da região.
O sucessivo avanço da monocultura de soja, de cana-de-açúcar e da pecuária extensiva provocou acelerados processos de degradação ambiental e desagregação social na região, além de altos índices de erosão e assoreamento, como na Bacia do rio Taquari e, mais recentemente, na Bacia do rio Miranda. A pesca predatória e o tráfico de animais silvestres também estão também são considerados problemas ambientais graves do Pantanal.
Do planalto ainda chegam para os cursos d'água, carreados pelas chuvas, descargas de pesticidas e fertilizantes usados nas monoculturas. Regiões como as nascentes do rio Paraguai, onde está o berço do Pantanal Mato-grossense, ainda concentram atividades econômicas de potencial poluidor, como o garimpo.
Os esgotos clandestinos e sem tratamento também causam grande impacto nas águas, na saúde humana e na fauna e flora pantaneira.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Cultura

As influências culturais no Pantanal configuram um grande mosaico, formado desde o contato dos indígenas com os primeiros desbravadores até, posteriormente, com bandeirantes e com aqueles que vieram em busca do ouro na região de Poconé. A partir do século XVIII começa a ocupação intensiva do Pantanal, em busca de minérios na região centro-norte do antigo Mato Grosso. No centro-sul, muitas famílias de migrantes desbravaram o Pantanal e constituíram as fazendas de gado que marcam profundamente a cultura pantaneira, centrada nos valores pastoris e com influência paraguaia e dos nativos.
Estabeleceram-se grandes sedes de fazendas ao longo dos últimos 200 anos, uma vez que a planície ofereceu aos trabalhadores de gado pastagens naturais para a criação extensiva, ou seja, solta no pasto. Nesse contexto surgem contrastes entre a cultura rústica do peão e as tradições burguesas dos patrões e seus descendentes.
Peões

A vida no Pantanal não é tarefa fácil, apesar da imagem de paraíso. É difícil adaptar-se ao pulso anual de inundação e ao isolamento promovido pelas águas. Os habitantes da planície são conhecedores de plantas medicinais e das condições do clima. O vaqueiro pantaneiro guarda consigo conhecimentos de toda dinâmica do Pantanal - aprendizado necessário àqueles que precisam conduzir o gado pelas vazantes para escapar das enchentes, pois formam-se até hoje grandes comitivas de gado que atravessam os pantanais. Muitos peões pantaneiros são descendentes de paraguaios que migraram procurando trabalho após a guerra do Paraguai (1864-1970). Entre suas habilidades estão a doma do cavalo e a confecção de artefatos de couro.
Os piscosos rios proporcionaram uma cultura de pesca em toda a região. O pescador pantaneiro, pela observação do ambiente, tornou-se conhecedor do comportamento dos peixes; sabe em quais partes do rio a fauna aquática costuma se abrigar e pela observação do nível das águas reconhece se vai dar peixe.
Na culinária destacam-se o peixe na brasa, o ensopado, o pirão e o caldo de piranha, o arroz carreteiro feito de carne seca, a banana da terra com farinha, o guisado de mandioca, a galinhada e a mandioca cozida, servida com o churrasco pantaneiro - assado num braseiro cavado na terra e espetado, em grandes pedaços, em estacas de madeira rústica. Os povos paraguaio e boliviano trouxeram grandes contribuições, como a sopa paraguaia, espécie de bolo de fubá com cebola e queijo, a chipa, a saltenha e o puchero.
O tereré, mate gelado, é costume dos Guarani e símbolo de toda a região. Amigos se encontram nas rodas de tereré para prosear e se refrescar. Já é um hábito incorporado a grande parte da população urbana de Mato Grosso do Sul. O chimarrão, mate quente, é apreciado e chegou ao Pantanal com os gaúchos.
Na música, existem registros de ritmos únicos da região, como o siriri e o cururu, sons tirados da viola-de-cocho - instrumento rústico, feito do tronco de árvores e que antigamente tinha cordas de tripa de bugio. É grande a influência dos ritmos paraguaios, como a guarânia, a polca e o rasqueado, disseminados no Mato Grosso. Bailes com esses ritmos, associados ao vanerão e ao xote dos gaúchos, são frequentes nos municípios do Pantanal. Também foram criados muitos Clubes de Laço e feiras agropecuárias.
Considerado um povo festeiro, aniversários e datas religiosas eram motivos para promover grandes festas nas fazendas para as quais as famílias se deslocavam em carros de boi. Alguns fazendeiros procuram manter essa tradição, mesmo com nuances mais modernas. Muitas festas de cunho religioso católico são registradas na planície, como os Mascarados, de Poconé (MT), e a festa do Divino Espírito Santo, de Coxim (MS). Houve também integração com confraternizações do Paraguai e da Bolívia, como o Touro Candil, de Porto Murtinho, e a festa de Nossa Senhora de Caacupé, em Bela Vista, Caracol e Porto Murtinho, municípios de Mato Grosso do Sul.
Pesquisadores já estão detectando transformações do modo de viver das populações pantaneiras. A chegada das redes de comunicação (TV e rádio) provoca novos anseios relativos ao consumo. Hoje os fazendeiros, em sua maioria, não moram nas fazendas, e o contato dos funcionários com o ambiente urbano é cada vez maior, pelas facilidades trazidas pelas estradas e necessidades criadas pelas relações econômicas. Novas modalidades de trabalho, como piloteiros e isqueiros, passaram a existir com a propagação do turismo de pesca e, em menor escala, o ecoturismo ou turismo contemplativo.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Flora

As paisagens do Pantanal revelam, além de uma abundante biodiversidade, um mosaico de formações vegetais e um verdadeiro refúgio para a reprodução de espécies da fauna da América do Sul. Os ciclos de avanço e recuo das águas (cheia e seca) determinam os tipos mais comuns de paisagens pantaneiras, um cenário em constante mudança ao longo do ano.
Por constituir-se como elo entre vários biomas, o Pantanal é um exuberante complexo moldado pelo ciclo das águas e influenciado por ambientes da vizinhança. Podemos encontrar na planície pantaneira espécies animais e vegetais do Cerrado (a leste), Amazônia (ao norte), Mata Atlântica (sul de Mato Grosso do Sul) e até Chaco (a oeste). Nas partes mais altas, como no Morro do Urucum, em Corumbá e na Serra da Bodoquena, encontram-se relictos de Caatinga e bromélias, em especial entre as rochas calcárias. Por este motivo os pesquisadores da região não costumam defini-lo como bioma, e sim como um complexo com várias influências, sendo raras suas espécies exclusivas (endêmicas).


O Pantanal é considerado uma das 37 Últimas Grandes Regiões Naturais da Terra - áreas caracterizadas por grande diversidade biológica, grandes extensões e baixa densidade populacional. As inundações anuais, associadas à baixa fertilidade dos solos, dificultam a ocupação e propiciam sua conservação. Mesmo assim, a região apresenta crescente ameaça à biodiversidade, devido, principalmente a desmatamentos, queimadas e grandes projetos de desenvolvimento, como hidrovias, usinas de álcool e siderurgia. A ONG Conservação Internacional realizou, em 2005, um estudo sobre a supressão da vegetação no Pantanal, e concluiu que o atual ritmo de desflorestamento é capaz de acabar com as florestas em 45 anos.

As plantas utilizam estratégias de sobrevivência ao ciclo de cheias e secas da planície pantaneira, formando ambientes peculiares. As mais de duas mil espécies vegetais de diferentes origens catalogadas na região vivem em ambientes muitas vezes incompatíveis, promovendo um movimento relacionado ao solo e às águas. Desta forma, há uma constante variação das espécies e, em determinadas regiões, pode ocorrer uma mudança na vegetação ao longo dos anos.

Mesmo constituído de espécies vegetais de vários outros biomas, a região abriga grande diversidade de formações típicas, com presença de algumas espécies mais frequentes. Os pantaneiros criaram termos regionais para cada pedaço do mosaico que forma a vegetação pantaneira, entre os quais está o acurizal, concentração da palmeira acuri, importante para a fauna, pois a noz serve de alimento para arara-azul-grande, e a polpa do coco, para roedores e periquitos, além de o caule ser usado como abrigo para pequenos animais.
Há também o carandazal, com predomínio da palmeira carandá (Copernicia alba), espécie de origem chaquenha avistada principalmente nos pantanais no Nabileque e Porto Murtinho. Destaca-se ainda o algodoal - marcado pelo predomínio do algodão-bravo, arbusto semitrepador que, associado a vários tipos de trepadeiras, forma um emaranhando consistente. Na cheia estas áreas ficam alagadas, e durante seca a vegetação serve como abrigo para os animais.

Quando as águas começam a subir no Pantanal, criam-se as vazantes, cursos d'água temporários, amplos e sem calha, que encobrem os grandes campos de gramíneas (pastagens naturais) formados durante a seca. Leitos abandonados de rios são tomados pelas águas, determinando cursos d'água sazonais, com calha definida, chamados de corixos. Dependendo da intensidade da cheia, áreas antes inalcançáveis para as águas podem se alagar, causando o recuo da flora, assim como uma seca prolongada pode gerar um avanço da vegetação.

Nas áreas mais altas, onde as águas não conseguem chegar, predomina uma vegetação mais densa e arbustiva, as chamadas cordilheiras, faixas (de terrenos) alongadas e sinuosas com espécies de Cerrado e Cerradão. As cordilheiras são normalmente rodeadas de campos alagáveis, que durante a seca formam a pastagem natural, considerada a principal vegetação do Pantanal.
Nestes campos há também os capões, verdadeiras ilhas de vegetação em formato circular ou semicircular em meio aos campos. A cordilheira e o capão são fundamentais para a dinâmica da vida, pois durante as cheias tornam-se abrigo e fonte de alimentos para a fauna silvestre, com árvores como aroeira, figueira, angico-vermelho, piúva, ipê-roxo e cambará.
Outro cenário peculiar é a flora das baías, as lagoas do Pantanal. Características da região, as baías podem ser temporárias ou permanentes, sendo conhecidas pela deslumbrante visão aérea de sua fisionomia. Nas lagoas permanentes são comuns as grandes aglomerações de aguapés, camalotes e a vegetação aquática conhecida como baceiro ou batume, formada por diversos tipos de plantas aquáticas flutuantes, emergentes ou submersas, tais como: chapéu-de-couro, vitória-régia, alface-d'água, pé-de-sapo, camalote e trevo-de-quatro-folhas.
Chamadas de salinas, as lagoas sem cobertura de plantas aquáticas têm água salobra e coloração verde, devido às densas populações de algas. Ao redor delas há uma faixa estreita de areia bem clara, rodeada de vegetação arbórea e arbustiva (árvores e arbustos).


Quando as águas começam a baixar, escoam em direção ao rio Paraguai, carregando consigo grande diversidade de espécies da flora, que se espalham pela planície buscando ambientes favoráveis à adaptação. Os peixes que não voltam aos rios ficam abrigados nas lagoas e servem como alimento para outros animais.

O baceiro vai preenchendo corixos e rios e, em pouco tempo, há grande multiplicação da vegetação. Com a chegada da seca, as vazantes transformam-se em campos com gramíneas (pastagens naturais) que florescem durante a primavera e o verão, forrando o chão de pequenas flores. Durante a seca, as florestas semidecíduas (em que as folhas caem) forram o chão de folhas, contribuindo com nutrientes para o solo.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Fauna

No imaginário, Pantanal é sinônimo de bicho. Considerado um dos maiores centros de reprodução das Américas, quase toda fauna brasileira está representada nesta região. A deslumbrante planície apresenta aos visitantes o espetáculo raro de ficar frente a frente com animais de grande e pequeno porte. As aves são um espetáculo à parte, uma infinidade de cores exclusivas do universo pantaneiro. O tuiuiú, ave símbolo do Pantanal, é avistado livremente, com sua imponente envergadura (com asas abertas) que pode chegar a dois metros. As garças promovem revoadas, as capivaras passam aos bandos e os numerosos jacarés, figuras mansas, ficam à espreita, ao redor das lagoas ou dentro d'água. O cor-de-rosa dos colhereiros, as araras-azuis-grandes, os biguás e a esperança de ver uma onça-pintada ou uma sucuri refletem a diversidade única do Pantanal.

Tuiuiu, um exemplo de ave do pantanal.

Os períodos de secas e cheias modificam radicalmente as paisagens. Durante metade do ano as águas sobem e os animais não são avistados com frequência. Como estão adaptados à condição, refugiam-se nas áreas não-inundáveis, como as cordilheiras e capões. Já nos seis meses de seca, a fauna é encontrada facilmente. Os animais amontoam-se ao redor das lagoas para se alimentar dos peixes e plantas.
Vários animais frequentes na planície pantaneira estão na lista oficial dos animais ameaçados de extinção. Entre eles cervo-do-pantanal, lobo-guará, arara-azul, ariranha e a onça-pintada. Em outras regiões do Brasil esses animais foram praticamente extintos, mas no Pantanal são vistos com frequência. Só em Mato Grosso do Sul, estado brasileiro com a maior área do Pantanal, estão na lista oficial dos animais extinção 37 espécies. Entre as que desapareceram está a arara-azul-pequena.



Entre os animais mais ameaçados está a onça-pintada, animal de grande porte que necessita de amplo território para viver. O felino disputa com fazendeiros o espaço e não é bem-vindo, porque muitas vezes ataca rebanhos de gado para se alimentar, causando prejuízos econômicos. A diminuição das matas densas do Pantanal gera uma grande pressão aos hábitats e pode causar a extinção de espécies da fauna.