As influências culturais no Pantanal configuram um grande mosaico, formado desde o contato dos indígenas com os primeiros desbravadores até, posteriormente, com bandeirantes e com aqueles que vieram em busca do ouro na região de Poconé. A partir do século XVIII começa a ocupação intensiva do Pantanal, em busca de minérios na região centro-norte do antigo Mato Grosso. No centro-sul, muitas famílias de migrantes desbravaram o Pantanal e constituíram as fazendas de gado que marcam profundamente a cultura pantaneira, centrada nos valores pastoris e com influência paraguaia e dos nativos.
Estabeleceram-se grandes sedes de fazendas ao longo dos últimos 200 anos, uma vez que a planície ofereceu aos trabalhadores de gado pastagens naturais para a criação extensiva, ou seja, solta no pasto. Nesse contexto surgem contrastes entre a cultura rústica do peão e as tradições burguesas dos patrões e seus descendentes.
Peões
A vida no Pantanal não é tarefa fácil, apesar da imagem de paraíso. É difícil adaptar-se ao pulso anual de inundação e ao isolamento promovido pelas águas. Os habitantes da planície são conhecedores de plantas medicinais e das condições do clima. O vaqueiro pantaneiro guarda consigo conhecimentos de toda dinâmica do Pantanal - aprendizado necessário àqueles que precisam conduzir o gado pelas vazantes para escapar das enchentes, pois formam-se até hoje grandes comitivas de gado que atravessam os pantanais. Muitos peões pantaneiros são descendentes de paraguaios que migraram procurando trabalho após a guerra do Paraguai (1864-1970). Entre suas habilidades estão a doma do cavalo e a confecção de artefatos de couro.
Os piscosos rios proporcionaram uma cultura de pesca em toda a região. O pescador pantaneiro, pela observação do ambiente, tornou-se conhecedor do comportamento dos peixes; sabe em quais partes do rio a fauna aquática costuma se abrigar e pela observação do nível das águas reconhece se vai dar peixe.
Na culinária destacam-se o peixe na brasa, o ensopado, o pirão e o caldo de piranha, o arroz carreteiro feito de carne seca, a banana da terra com farinha, o guisado de mandioca, a galinhada e a mandioca cozida, servida com o churrasco pantaneiro - assado num braseiro cavado na terra e espetado, em grandes pedaços, em estacas de madeira rústica. Os povos paraguaio e boliviano trouxeram grandes contribuições, como a sopa paraguaia, espécie de bolo de fubá com cebola e queijo, a chipa, a saltenha e o puchero.
O tereré, mate gelado, é costume dos Guarani e símbolo de toda a região. Amigos se encontram nas rodas de tereré para prosear e se refrescar. Já é um hábito incorporado a grande parte da população urbana de Mato Grosso do Sul. O chimarrão, mate quente, é apreciado e chegou ao Pantanal com os gaúchos.
Na música, existem registros de ritmos únicos da região, como o siriri e o cururu, sons tirados da viola-de-cocho - instrumento rústico, feito do tronco de árvores e que antigamente tinha cordas de tripa de bugio. É grande a influência dos ritmos paraguaios, como a guarânia, a polca e o rasqueado, disseminados no Mato Grosso. Bailes com esses ritmos, associados ao vanerão e ao xote dos gaúchos, são frequentes nos municípios do Pantanal. Também foram criados muitos Clubes de Laço e feiras agropecuárias.
Considerado um povo festeiro, aniversários e datas religiosas eram motivos para promover grandes festas nas fazendas para as quais as famílias se deslocavam em carros de boi. Alguns fazendeiros procuram manter essa tradição, mesmo com nuances mais modernas. Muitas festas de cunho religioso católico são registradas na planície, como os Mascarados, de Poconé (MT), e a festa do Divino Espírito Santo, de Coxim (MS). Houve também integração com confraternizações do Paraguai e da Bolívia, como o Touro Candil, de Porto Murtinho, e a festa de Nossa Senhora de Caacupé, em Bela Vista, Caracol e Porto Murtinho, municípios de Mato Grosso do Sul.
Pesquisadores já estão detectando transformações do modo de viver das populações pantaneiras. A chegada das redes de comunicação (TV e rádio) provoca novos anseios relativos ao consumo. Hoje os fazendeiros, em sua maioria, não moram nas fazendas, e o contato dos funcionários com o ambiente urbano é cada vez maior, pelas facilidades trazidas pelas estradas e necessidades criadas pelas relações econômicas. Novas modalidades de trabalho, como piloteiros e isqueiros, passaram a existir com a propagação do turismo de pesca e, em menor escala, o ecoturismo ou turismo contemplativo.
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